“Teocracia em Vertigem” é o novo especial de Natal do Porta dos Fundos

"Teocracia em Vertigem" Porta dos Fundos | Foto: Reprodução

Depois de dois anos de sucesso na Netflix – um Emmy internacional e uma polêmica enorme que foi parar na Justiça, sempre com decisões a favor dos comediantes, o especial de Natal do Porta dos Fundos volta ao canal do YouTube, a casa original do grupo, e também estreia na PlutoTV, a nova plataforma de streaming da Viacom/CBS. “Teocracia em Vertigem”, o especial produzido durante a pandemia, chegou à rede na quinta-feira (10).

O novo filme combina a necessidade de isolamento social e a impossibilidade de aglomeração para as filmagens com uma ideia do roteirista Gabriel Esteves: filmar em formato de documentário, numa paródia ao filme indicado para o Oscar “Democracia em Vertigem”.

De fortes tintas políticas, o novo filme do Porta conta a história de Jesus recolhendo depoimentos de personagens como Maria, sua mãe (Evelyn Castro), os apóstolos Pedro (Leandro Ramos), João (Fabio de Luca), Judas Tadeu (Raul Chequer) e Judas Iscariotes (Daniel Furlan).

Paulo Tiefenthaler faz um Pôncio Pilatos memorável, e outros atores do elenco do Porta (e também convidados, como o comediante Yuri Marçal) participam do filme, distribuídos em personagens como “cidadão de bem”, “terraplanista”, “ex-leproso”, e claro, Barrabás.

No “documentário”, a diretora (a voz de Clarice Falcão) tenta investigar quem foi Jesus e como se deu o processo de julgamento e condenação do Messias, fortemente inspirado na lógica atual das redes sociais, como racionalizações rasas, falsas equivalências e muito ódio.

Alguns dos absurdos ditos pelos personagens, como “pode mandar (Jesus) voltar, porque se voltar eu mato de novo”, foram baseados em ameaças que o Porta dos Fundos sofreu na web, ou em memes políticos que viralizaram nos dois últimos anos. O filme também questiona a promessa da volta do Messias.

Para escrever o especial, o roteirista do filme, Fábio Porchat, conta que releu os evangelhos bíblicos. “Minha família não é muito religiosa, mas sempre me interessei muito por religião. Acredito que a gente tinha sim que ter aulas na escola sobre isso, mas não só católica. Lendo os evangelistas, eles mesmo discordam entre si, e as leituras foram mudando, sendo interpretadas ao longo do tempo”, diz Porchat ao Estadão por videoconferência, garantindo que nutre um respeito pela história.

Porchat conta que passou o roteiro para pastores conhecidos, que acharam graça e não viram nenhuma heresia ali. “Acho Jesus um cara bacana para caramba. Acho inaceitável as pessoas que se beneficiam politicamente dessa leitura. É muito mais ofensivo abrir templos durante pandemia, dizer que não precisa tomar remédio, que depressão não existe, do que qualquer especial do Porta dos Fundos”. Ele mesmo é quem interpreta, novamente, Jesus, em um número musical de hip hop no final do filme.

Em coletiva de imprensa, o ator do Porta Antonio Tabet foi taxativo sobre as reações ao filme A Primeira Tentação de Cristo, o especial de 2019. “Uma polêmica incrível que se resume à homofobia. Quando Jesus era um mau caráter (no filme de 2018), um escroto, não houve repercussão desse tipo. Quando havia uma simples sugestão de relacionamento homoafetivo, virou o que virou, com deputado federal cometendo crime de homofobia na Câmara”.

Para ele – que, no novo filme, interpreta um Centurião, uma mistura de personagens conhecidos da política brasileira, como Sérgio Moro e Deltan Dallagnol –, o novo especial não terá uma repercussão no sentido mais “explosivo” por ser, agora, mais político do que moral.

Eles têm algum medo, um ano depois do ocorrido? “Medo tenho de o Bolsonaro ser reeleito, do Salles conseguir passar a boiada, de não termos um ministro do Saúde no meio da pandemia”, afirma Porchat.

Com informações do Estadão