Pico da Neblina, no norte do Amazonas, será reaberto a visitação em março

Pico da Neblina
Pico da Neblina

Com mais de 2.995 m de altura, o pico da Neblina (ou “Yaripo” em língua indígena), no norte do Amazonas, é morada dos espíritos guardiães dos Yanomamis.

É para lá que vão os pajés da tribo depois da morte. O território – indígena – é sagrado. É preciso respeito. É preciso reverenciar a montanha. Mas nada disso foi levado em consideração pelos turistas que exploraram o destino, de forma desordenada, até 2003 – quando o parque nacional foi fechado à visitação. Porém, neste ano, os Yanomamis assumem o protagonismo que lhes é de direito sobre o local e convidam novos visitantes a uma expedição mais genuína. A previsão é que o parque seja reaberto em março.

Recentemente, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) abriu edital para a operação turística no destino (inscrições até 21 de janeiro). Durante os últimos cinco anos, a comunidade indígena se reuniu com órgãos federais num intenso processo que culminou no plano de visitação do parque.

“É um sonho que vai ser realizado pelo povo Yanomami”, conta José Mário Pereira Góes, presidente da Associação Yanomami do Rio Cauaburis e Afluentes (Ayrca).

Público beneficiado: 2.990 pessoas das comunidades Yanomami de Ariabú, Ayari, Inambú, Maiá, Maturacá e Naz.

Ele conta que a comunidade está organizada e que os jovens foram qualificados para poder trabalhar com ecoturismo.

“Tem carregadores, guias, cozinheiros e gente pronta para o socorro. Estamos preparados e vamos executar bem esse projeto”, garante.

O roteiro oferecido pela comunidade Yanomami terá dez dias e contará com caminhadas longas e percursos feitos em barcos. Quem topar o desafio de subir os 2.995 m do pico, fará um mergulho completo na cultura indígena: da culinária típica a acampamentos em meio à mata.

“Estamos aqui porque queremos trabalhar no projeto, não no garimpo. Não queremos contaminação das águas, do solo… Estamos dando exemplo para as novas gerações”, explica José.

Inovação

O plano de visitação que será implementado no pico da Neblina é um projeto inovador de turismo sustentável no Brasil, que garante a autonomia dos Yanomamis. Além da comunidade indígena, o processo envolveu o ICMBio, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a Fundação Nacional do Índio (Funai) e o Instituto Socioambiental (ISA).

Subida ao Yaripo

Roteiro de dez dias

Oito dias de caminhada com grande variação de altitude – de 95 a 2.995 m e dois dias de navegação. Travessia de igarapés e passagem por brejos. Névoas, chuviscos ou tempestades são esperadas. A subida ao cume é realizado no sexto dia, e a caminhada dura cerca de oito horas (ida e volta). O pernoite no cume é proibido por questões de segurança.

Grupo

Cada expedição será composta por até dez visitantes, um guia e carregadores (de acordo com o número de turistas).

Temporada

A visitação ao Yaripo pode acontecer durante todo o ano. No inverno (agosto e setembro), o trecho fluvial é facilitado com os rios cheios, enquanto a trilha terrestre fica mais encharcada e impõe maior dificuldade aos caminhantes. A visibilidade é melhor durante essa estação. Já no verão (janeiro e fevereiro), a navegação fluvial se torna mais demorada porque, com o rio baixo, podem surgir trechos onde é necessário navegar em baixa velocidade ou até arrastar o bote. Apesar disso, no verão a trilha é melhor para caminhada por estar mais seca.