Pesquisadores analisam pessoas que vivem com HIV/AIDS no Amazonas

Fotos: Érico Xavier | Arquivo pessoal e Divulgação/Fapeam
Os recursos da Fapeam estimam apoiar até 75 projetos . Fotos: Érico Xavier

Saúde/Am – O surgimento da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) e o aumento da incidência da infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) continuam sendo um dos grandes desafios para a saúde mundial.

Com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), cientistas locais criaram uma linha de pesquisa clínica que avalia aspectos da saúde e da evolução das Pessoas Vivendo com HIV (PVHIV) hospitalizadas na Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD).

O fomento da Fapeam ocorreu por meio do Programa de Apoio à Pós-Graduação Stricto Sensu (Posgrad), sob coordenação da pesquisadora e professora da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Roberta Lins, com a vinculação de pesquisadores, alunos de iniciação científica, mestrandos, doutorandos e pós-doutorandos.

Roberta explica que os resultados esperados para esta fase do estudo foram alcançados. As PVHIVs que participaram da pesquisa eram em sua maioria jovens, pardos, solteiros, moravam sozinhos, apresentavam ensino médio completo e renda de um salário mínimo. A maior parte recebeu diagnóstico recente de HIV e demonstrou baixa capacidade funcional.

”O principal motivo das hospitalizações foi o baixo peso e a redução dos níveis de linfócitos TCD4+ (AIDS). Dentre os participantes da pesquisa, 11% não estavam em uso de Terapia Antirretroviral Altamente Ativa (HAART). A maior parte da amostra, 53%, foi considerada como diagnóstico recente de HIV, ou seja, diagnóstico realizado no momento da internação ou na ida prévia à Unidade Básica de Saúde por causa de sintomas; 33% apresentou diagnóstico tardio, mas abandonou o tratamento; 8% apresentou diagnóstico tardio e encontrava-se sem tratamento e 6% das PVHIVs receberam diagnóstico tardio e estavam em HAART; 92% das PVHIVs hospitalizadas estudadas evoluíram para alta hospitalar e 8% evoluíram para o óbito”, relata.

Para Roberta, mesmo com o advento da Terapia Antirretroviral Altamente Ativa, que alterou a mortalidade mundial, algumas PVHIVs apresentam evolução clínica peculiar, com hospitalizações frequentes, declínio físico funcional e redução da qualidade de vida.

“O objetivo deste estudo foi conhecer as características e a capacidade funcional de PVHIVs hospitalizadas. Tratou-se, portanto, de um estudo observacional, transversal. As pesquisas observacionais são formas não-experimentais de investigação. Estudos transversais são usados, principalmente, para estimar a prevalência. Eles são relativamente rápidos e baratos e podem ser usados para estudar vários resultados. Nestes tipos de estudos não é possível determinar um relacionamento causa-resposta porque o pesquisador não controla as variáveis sob investigação. Em vez disso, pode ser possível encontrar correlações entre as variáveis observadas a fim de determinar relacionamentos ou associações entre elas”, conta.

Segundo a pesquisadora, as PVHIVs, especialmente as hospitalizadas, podem evoluir com alteração da composição corporal, fraqueza, fadiga e síndrome consuptiva, entre outros.

“Assim, conhecer as condições de saúde de uma população específica, como das PVHIVs, pode ajudar os profissionais da saúde a elaborar um plano de cuidados focado na pessoa e não apenas na doença, e aos gestores a estabelecer políticas públicas visando a melhoria da saúde”, enfatizou.

Estudo – Além da professora Roberta Lins, participaram do estudo o mestrando do Programa de Pós-graduação em Ciências e Saúde (PPGCIS) da Ufam, o fisioterapeuta Wilson Zacarias Aires Neto, a professora Taynna Vernalha, professor Luiz Carlos Ferreira, o professor Boechat Lopes, professor Fernando Val, a médica patologista Monique Freire e outros pesquisadores do PPGCIS, da FMT-HVD e do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/ Fiocruz Amazônia).

Para este piloto, foram estudados 36 PVHIVs hospitalizados. Esta pesquisa faz parte de um grande projeto vinculado ao Programa Nacional de Cooperação Acadêmica na Amazônia (Procad/Amazônia), que iniciou em 2018 e será realizado em quatro anos.

AIDS no Amazonas – No período de janeiro a setembro de 2019, foram notificados 1.137 novos casos do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) em jovens e adultos, em todo o estado do Amazonas, de acordo com Sistema de Informação de Agravos de Notificação do (Sinan).

A pesquisadora relata que a melhoria das condições de saúde de indivíduos com doenças crônicas é um desafio complexo, requer a quebra do paradigma da atenção à saúde centrada na doença, fragmentada, reativa e episódica, para focar na pessoa, visando a qualidade da vida e maneiras que favoreçam ao indivíduo viver de maneira plena.

“Conhecer e monitorar a capacidade funcional de indivíduos com condições crônicas de saúde é essencial para reduzir as barreiras e minimizar as deficiências e limitações que esses indivíduos apresentem. Assim, os profissionais de saúde em ambientes clínicos podem detectar declínios nas habilidades físicas (clinicamente expressas como deficiências) e fornecer intervenções eficazes para prevenir e retardar a progressão”, pontuou.

Posgrad – É uma ação da Fapeam que tem como objetivo apoiar a formação de recursos humanos altamente qualificados nos Programas de Pós-Graduação Stricto Sensu (PPGSS), aprovados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), por meio da concessão de bolsas de mestrado e doutorado.