MPF-AM faz nova denúncia contra médico suspeito de desviar quase R$ 2 milhões da saúde

Mouhamed Moustafa mpf

O Ministério Público Federal (MPF-AM) no Amazonas denunciou à Justiça Federal quatro réus da Operação Maus Caminhos pelo crime de peculato e pediu o ressarcimento de R$ 1.993.263,14, em valores não atualizados, como forma de reparar os danos causados ao estado. A informação foi divulgada nesta segunda-feira (22).

A operação ‘Maus Caminhos’ investiga o desvio de quantias de recursos públicos federais da saúde. Um dos denunciados pelo MPF é o médico Mouhamed Moustafa, apontado como o chefe da organização criminosa. A denúncia faz parte dos desdobramentos da Operação Cashback, 4ª fase da Maus Caminhos.

Também são citados na nova denúncia: Jennifer Naiyara Yochabel Rufino Correa da Silva, Edson Tadeu Ignácio e Pablo Gnutzmann Pereira. A defesa de Jennifer disse que não se pronunciará pois só se manifesta nos autos. O G1 tenta contato com os demais citados.

De acordo com a denúncia, os suspeitos desviaram e se apropriaram de recursos públicos federais em benefício da empresa M. L. Comercial Alimentos, prestadora de serviços para o Instituto Novos Caminhos (INC).

Ainda de acordo com o MPF, em 2015, o INC contratou a M. L. Comercial para fornecer refeições à Unidade de Pronto Atendimento Campos Salles (UPA/CSL) e ao Centro de Reabilitação em Dependência Química Ismael Abdel Aziz (CRDQ). Ainda que os contratos tenham sido firmados oficialmente em agosto de 2015, as investigações identificaram que a empresa começou a emitir notas fiscais por serviços supostamente prestados ao INC em dezembro de 2014. Emitidas até fevereiro de 2016, as notas somam o valor total de R$ 4.386.072,20, entretanto, os pagamentos realizados alcançam o valor de R$ 4.504.028,70.

Para o MPF, a existência de relacionamentos comerciais informais e a constatação de que o valor dos pagamentos era maior do que o indicado nas notas fiscais emitidas já representa, por si só, indício de irregularidades.

“Contudo, as investigações foram além e revelaram desvios realizados de quatro diferentes maneiras: superfaturamento de preço e quantidade no contrato com o CRDQ; superfaturamento de preços no contrato com a UPA; pagamentos em duplicidade e pagamentos referentes a serviços que não possuem relação com o serviço contratado pelo INC”, diz o MPF.

Nos quatro tipos de desvios realizados, o médico Mouhamad Moustafa, com a colaboração da então presidente do INC, Jennifer Naiyara, era responsável por desviar os valores. Por sua vez, o administrador da M. L. Comercial, Edson Tadeu, era o responsável por emitir as notas fiscais falsas, com a indicação dos serviços superfaturados, pagos de forma duplicada ou sem a finalidade pública e prevista no contrato firmado entre o INC e a M.L. Comercial.

De acordo com o MPF, Entre dezembro de 2014 e maio de 2016, o INC realizou 17 pagamentos superfaturados, em preço e quantidade, relacionados a refeições fornecidas pela M. L. Comercial ao CRDQ. Até maio de 2015, o instituto também fez cinco pagamentos superfaturados no contrato com a UPA. Ao todo, os 22 pagamentos superfaturados fizeram com que a empresa de alimentos recebesse, indevidamente, R$ 1.367.121,14.

No final de 2015, o INC realizou três transferências bancárias em benefício da M. L, entretanto, tais transferências eram relacionadas a pagamentos já realizados pelo INC. Conforme o MPF, o então diretor executivo do CRDQ, Pablo Gnutzmann, foi o responsável por atestar as notas fiscais de serviços pagos de forma duplicada. Os três pagamentos em duplicidade levaram a empresa a receber, indevidamente, mais R$ 538.062,27.

Festas e ceias natalinas com recursos públicos

Em 2014, o INC realizou festas de final de ano e ceias natalinas, com refeições fornecidas pela M. L. Comercial. Estes eventos foram custeados com valores relacionados aos contratos para fornecimento de refeições ao CRDQ e à UPA Campos Sales. O problema apontado na denúncia é que o fornecimento de alimentos para estas festas e ceias natalinas não fazia parte dos objetivos dos contratos firmados, tão pouco houve licitação ou algum procedimento equivalente.

Segundo o MPF, isso significa que “dinheiro público que serviria ao financiamento de políticas públicas de saúde acabou sendo utilizado para o custeio de eventos particulares, em benefício do INC e de seus empregados”. Esses pagamentos referentes a serviços que não possuem relação com o contratado fizeram com que a M. L. faturasse, indevidamente, mais R$ 88.080,00.

Diante das irregularidades apontadas, o MPF pediu a condenação dos denunciados pelo crime de peculato e ao dever de reparar os danos causados, em valores devidamente atualizados.

Com informações G1